domingo, 10 de fevereiro de 2008

Um “Ctrl Z” na vida.

Eu admirava meu pai concluir todas as partidas de paciência-quatro-naipes. Dia desses fui arrebatada da minha posição de adoradora porque peguei o danadinho usando “Ctrl Z” para retroceder os passos das cartas que ele punha em lugares errados.
No entanto, a habilidade maliciosa do meu saudoso velho só era usada porque o jogo admitia essa façanha dos atalhos do teclado. Esperteza dele.

Pensei comigo que não seria uma má idéia se a vida admitisse usar “Ctrl Z” nas mais simples coisas que fazemos. Não falo de um “Ctrl Z” ilimitado que podemos dar até chegar ao momento em que fomos concebidos. Falo de um atalho de volta que nos permitisse escrever uma vida mais organizada e talvez mais heróica e menos cruel.

Eu explico. Suponha você de frente para uma velhinha sendo assaltada. O ladrão passa correndo na sua frente levando toda a aposentadoria da coitada. Com a possibilidade de usar “Ctrl Z”, você, num ato heróico, podia enfiar na frente do gatuno e tentar pegar a arma para salvar o dinheiro da senhora. Caso você morresse era só aplicar “Ctrl Z”. Num ato de perfeição, você poderia tentar ser herói de novo.

É só um exemplo. Tem causas mais nobres que um mero assalto, para se usar “Ctrl Z”. Como guerras que poderiam ser evitadas se tivessem sido dados “Ctrl Zs” em algumas ofensas. Como acidentes de carro que poderiam não ter acontecido.

O que me leva a escrever esse texto é justamente o último motivo. Uma amiga minha perdeu o pai e o irmão recentemente num acidente de carro. Segundo as notícias, o carro das vítimas não teria culpa nenhuma na imprudência que provocou o acidente. Um “Ctrl Z” teria feito o pai dela tomar a providência de parar alguns minutos antes, para fazer xixi na estrada, por exemplo.

A desgraça de todos nós, é que, ao contrário do jogo paciência que é projetado pessoas falíveis, o jogo da vida é de regras amargas e respeitosamente perfeitas. Salve o meu Deus, o seu Deus, ou a mágica (para os ateus) que rege tudo isso. Não há seres espertos que conseguem burlar a regras da vida. Nem meu pai, meu super-herói, é uma exceção.

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