domingo, 29 de março de 2009

Simples para o bolso e para o coração.

Tenho raiva de gente intelectual que lê Nietzsche e vem falando que felicidade não pode ser adquirida comprando coisas!

Eu não tenho problema nenhum em admitir que saio SUPER FELIZ de uma loja de 1 real com a sacola cheia de coisas pequenininhas, coloridinhas, imprestaveisinhas.

Vanglorio de ser esperta por extravasar minha ira consumista sem muito prejuízo monetário.

É boa a sensação de ser multipresenteada por mim mesma com coisas irrisórias.

É que nessas horas aflora meu lado criança de incredulidade por ver que uma pratinha de 1 real - um pedaço tolo de metal - dava 10 chup-chups* tão gelados e docinhos.

Nem que eu tivesse todo dinheiro do mundo para comprar carros e aviões.
Se você se arrepende de comprar uma coisa grande dessas, ela vira é um baita de um problema depois.

Agora, vasilhinha de plástico que racha ou derrete, vira vasinho de flor e tudo se resolve.

*Sacolé.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Só daqui seis anos?

Desde o primeiro período de Medicina aqui na Faculdade de Ciências Médicas de Alfenas, os alunos poem a mão na massa. Esse ‘por a mão na massa’ é assim meio relativo, na verdade a gente põe são os olhos na massa. Termo ‘massa’ que se refere ao mais maluco dos seres: o bicho homem, que quando doente fica mais maluco ainda e a gente chama de paciente.

Eu comecei a fazer estágio num postinho de saúde aqui da Cidade (Alfenas-MG). Nós, estudantes, chamamos de ‘postinho’, mas a professora cansa de falar que está errado. O nome certo é PSF: Programa de Saúde da Família. Toda quarta-feira eu fico lá nesse postinho e a cada semana eu acompanho um profissional de saúde diferente. Essa semana eu acompanhei o próprio médico: Dr. Geraldo Rolien. Um ótimo desanimador de protótipos de médicos (forma como ele chama a nós estagiários).

O Dr. Rolien chegou na sala de espera, virou para nós estudantes e disse:
_Boa tarde pHD’s!
Os meus coleguinhas responderam ‘Boa tarde!’, mas eu, encrenqueira que sou, retruquei:
_Não Senhor! A gente não é phD de nada não, a gente é estagiário.
_Pois então! Péssimos Horríveis Demais!
_Glup! O.O

O médico piadista se recupera de sua risadinha de Muttley (só ele riu da própria piada). Aí ele convoca o acompanhante do dia:
_Quem vai me assistir hoje?

Putz! Na escala da professora era eu a acompanhante. Só levantei a mãosinha assim meio de leve, tipo "é eu, mas eu não queria que fosse eu!". Depois eu recuperei o fôlego, desencostei meu bumbum branco do banco e segui o doutor ao seu consultório. Mesmo sendo Péssima Horrível Demais ele teria de me engolir. Afinal a minha família inteira já acha que eu sou médica formada e está passando da hora de ser um pouquinho menos péssima. É que já tem gente me ligando pedindo conselho remédio. Então tenho pelo menos que aprender a me fingir de médica. Seja o que Deus quiser! (Já dizia minha falecida vovosinha, que Deus a tenha!)

A partir de agora eu conto para vocês a minha experiência "Fingindo ser médica por um dia!"

Eu tentei pisar no consultório do Dr. Rolien com o pé direito, mas um degrausinho ordinário de menos de um dedo me fez trupicar que acabei pisando com o esquerdo mesmo.

_Srta. ... Marina Medeiros (Ele lendo o meu jaleco que está escrito "Mariana M.") você senta naquela caderinha ali do canto e não fala nada não. Principalmente se o paciente estiver aqui ok?
Só fiz um "aham" entupido e sentei.

Que raiva foi me dando daquele médico! Sabe aqueles dias que você está de TPM e qualquer coisa (inclusive quando erram seu nome) dá vontade de chorar? (Lógico, estou perguntando para as leitoras mulheres). Mas enfim, se eu não fosse uma mulher durona e cheia classe, tinha aprontado um berreiro só. E confesso. Quase aprontei.

Primeira paciente: A moça com coisas estranhas.

_Doutor eu tô com um olho de peixe no pé, um caroço no pescoço e um trem esquisito na mama.
_Deita ali na maca para eu ver!

Ele olha o pé da paciente, aperta 2 vezes um carocinho e diz:
_Eu vou te encaminhar a um cirurgião para tirar isso.

Depois ele palpa a mama dela e fala:
_Tem nada aqui não. Isso esquisito é ducto mamário.

Depois ele palpa o pescoço e finaliza:
_O mesmo cirurgião que tirar a verruga do pé tira o caroço do pescoço. Pode descer!

Doutor Rolien senta na sua mesinha, escreve, escreve, escreve. Dá um papel para a moça e ela vai embora.

Decepção essa primeira consulta! Ele não fez nada!
O que eu aprendi? Qualquer pessoa que chegar com um caroço perto de mim eu encaminho para um cirurgião. Problema de caroços resolvidos.

Segunda paciente: A senhorinha de uns 80 anos que chega com dificuldades apoiada pela filha.

_Dona Lara tudo bem? O Rolien pergunta.
_Tô boa para mandar para o caixão!

Aí a filha começa:
_Doutor, a mãe não tá comendo nada...
_Mentira que eu como leite com farinha. Dona Lara interrompe.
_Ela tá com uma assadura que não melhora com essa pomada aqui. Ah! E ela fica querendo tomar sorvete nesse tempo de calor.

Tadinha da Dona Lara! Está calor mesmo aqui em Alfenas, mas a senhorinha era diabética pelo que deu para entender. O doutor diz:

_A senhora pode tomar sorvete.
_Posso doutor!?! Posso mesmo?!

A carinha de doente da velhinha tinha melhorado. O bom é que todos os pacientes chegam com cara de que estão quase morrendo perto de um médico. Mas a Dona Lara tinha ficado admiravelmente feliz por poder tomar sorvete. Quer dizer, até o Doutor Chatolino acrescentar:

_Uma bola de sorvete a cada dois meses. Ou sorvete sabor gelo.

A paciente ficou com cara de doente de novo. O doutor prescreveu outra pomada e ela foi embora.

O que eu aprendi? A dar valor porque eu posso tomar sorvete.
Terceira paciente: A moça de vinte anos com suspeita de gravidez.

_Trouxe os exames para o senhor ver.
Rolien olha uma folha, olha a outra...

_Você não está grávida!
_Tem certeza doutor? Tem certeza?
_Claro que tenho! É o segundo exame que a senhora faz e dá negativo.
_Mas é que tem as margens de erro e o senhor sabe.
_Você queria estar grávida?
_Não.
_Então.
_Mas não tem jeito de fazer outro exame?
_A gente vai fazer outro exame sim. Mas é para ver o que está causando atraso na sua regra. E que NÃO é gravidez!
_E esse exame pode aparecer que a gente tá gravida de outro jeito doutor?
_Como assim grávida de outro jeito?
_Grávida de um jeito que não dá para ver nos outros exames que eu já fiz.
_(imagine cara de tacho do Rolien. Bem feito! Me senti vingada.)

O que eu aprendi? Nada. Uma forma de irritar o Doutor Rolien. Hehe.
Quarta paciente: A religiosa com colesterol alto.

_Graças a Deus eu consegui marcar uma consulta com o senhor! É que eu queria um remédio p’ra eSmagrecer (adoro quando alguém fala assim! É tão mais difícil que emagrecer sem S!). A dieta que o senhor me passou não tá adiantando não. Tem um remédio para ajudar, num tem?
_Tem.
_Então o senhor me passa pelo amor de Deus! Eu tô precisando de mais!
_Fechar a boca!
_Mas não tem uma pílula, um remedinho...
_Fechar a boca!
_Então só tem esse jeito então?
_Aham.
_Então Deus te pague o senhor. Fica com Deus então! Se Deus quiser eu consigo fazer regime. Obrigada demais o senhor!

O que eu aprendi? "Pacientes religiosos são os piores!" Nas palavras do Doutor Rolien.

E naquela tarde passou gente com cutuvelo doendo, com renite, bronquite, reumatite, estalagmite. Eu permaneci quietinha, só olhando. O doutor até elogiou a minha postura íntegra como principiante de médica. Lógico! No tom de deboche total. Mas nessa hora eu nem liguei para alfinetada. Havia entendido os motivos dele fazer tanta piadinha amarga da vida.

Enfim, para tratar gente maluca assim, ainda serei por um bom tempo, Péssima Horrível Demais!

Agradecimentos ao Doutor Rolien pela paciência.

terça-feira, 17 de março de 2009

2 Balas.


Era para ser uma noite de folia. Uma terça-feira de folia. Carnaval oras!
Não tive folia, mas eu tive um encontro.

Um fusca e um gol parados na rua.
Rua que deveria estar deserta,
mas por graças divinas estava bem povoadinha.

A gente se despede. Ele joga duas balas pretas na minha bolsa preta, naquela noite nem tão preta assim.

“Má! Quando chupá-las, lembre-se mim!”

Uma bala eu chupei 4 dias depois daquele dia.
O gosto era ruim, muito diferente do gosto de loucura que tinha as outras 8 que a gente chupou juntos. Eram daquelas balas ardidas e o caldinho descia queimando pela guela.
Cuspi a bala fora.

Soa muito profano lembrar de uma pessoa, um homem, chupando uma bala.
Coitada da bala! Ela não tinha culpa de ser profana!

Ontem, a segunda bala eu dei para um amigo meu gay chupar.
Se tinha qualquer macumba naquilo, neutralizei.

sábado, 14 de março de 2009

Infundamentos fundamentados.

Amanhã eu vou iniciar mudanças na minha vida rotineira. Providência crucial: Alterar a musiquinha do despertador do celular.

Posso ser considerada um ser autotrófico. Produzo meu próprio alimento, estou até cozinhando bem. Dou conhecimento de cada coisa que encontrarem nas minhas fezes.

Uma forma de reduzir a poluição dos carros é plantando árvores no meio das ruas. Uma forma de evitar que filhinhos de papai zanzem com seus carros em alta velocidade na Avenida principal de Alfenas é plantando árvores no meio da rua.

Preciso resolver minha vida aqui nessa cidade (Alfenas – MG). É urgente encontrar um cabeleireiro de confiança. Estou ocupando demais a cabeça com quantidade desnecessária de cabelo.

Se leucemia é ausência de leucócitos no sangue, maremia é ausência de mar no sangue. Tem dois anos que não vejo o mar, mas em compensação, o sol do litoral eu tenho aqui. 41 graus Celsius. O remédio para maremia aguda é usar sundown. O cheiro desse protetor solar engabela o meu pobre coração mineiro sem água salgada.
Versinho:
Sundown, sol e vento
Sei que vai ter um jumento
Para falar que meu cheiro é fedorento.

Eu odeio lavar roupa! A gente devia andar pelado! Eva idiota! Para quê você foi comer uma maçansinha?!

Preocupações com a casa incluem ter medo de ladrão e colocar cadeado duplo no portão. Ter medo de rato e barata e colocar pano na fenda da porta da cozinha. Administrar os alimentos da geladeira e evitar que eles apodreçam.
“Lembre-se Mariana Martins! Há milhões de criancinhas passando fome na África!”

Dicas:
Chapinha (prancha) de cabelo quente na coxa, queima.
Ferro de passar ajustado para o modo vapor e sem água dentro, fede queimado.
Feijão cozido não quer dizer que está temperado.


Eh vida!

domingo, 8 de março de 2009

Boi, boi, boi... boi da cara preta! Pega essa menina que tem medo de careta!

Clique na imagem e a amplie!

Esse negócio de contar carneirinho para dormir, para mim, é algo assim meio... abstrato.

Quando era possível manter em casa um gato de TV à cabo, aqueles canais de venda de boi me eram muito úteis. Boi p'ra lá, boi p'ra cá, o apresentador ia repetindo os predicados do garrote a venda. Tudo soava feito canção de ninar. Chegava certa hora da madrugada que viajava questionando que quantidade imensa era aquela de bois que desfilavam na telinha, sendo que era um boi só que ia e voltava em repetição da mesma imagem. Eu amolecia e dormia feliz com aquela sensação boa de cansaço, parecendo que uma boiada realmente havia passado pela minha cabeça.

Na insônia vale tudo. Ler, ver lua, cortar unha do pé, bater vitamina de goiaba e leite. Como é madrugada e o liquidificador é barulhento, chocolate quente é bom, pelo menos mais silencioso.

Tem gente que espera o sono chegar no escurinho. Eu, pessoalmente, deixo uma luzinha acesa na casa. Vai que o sono anda perdido no meio da casa mesmo, se houver luz ele encontra quem o espera.

Ligo a luz do terreiro. O chato é que não tenho mais canal de boi e não tem goiaba, muito menos leite na geladeira. Lua? Eu estou com trauma de luas (ver tópico abaixo). Ler? Meus livrinhos acadêmicos grossinhos me sugam qualquer vontade de ler.

Ligo o rádio do telefone e descubro em meio a tantas estações de rádio sertaneja dessa cidade um especial do Ray Charles na rádio Universitária. Puts! É blues! E o problema que eu tenho com isso é que quando eu ouço blues, a última coisa que dá vontade de fazer é dormir. Naquele momento eu desejei vestir uma camisola de cetim preta bizarra que a minha mãe tem, colocar um ray ban, passar um baton vermelho sangue, pegar a vassoura e dançar, dançar a casa inteira! Ai que ódio! Eu preciso dormir e não dançar, porque se não, amanhã eu viro um bagaço perambulando na faculdade.

Desligo o rádio, vou tentar não pensar em nada. O melhor é olhar para alguma coisa que não me faz lembrar de nada. Aí eu olho para o teto. Só vivencio meia fração de segundo sem pensar em nada. Começo a analisar as pururucas de areia no reboque do teto. Traço estrela, traço patinho, nenhum desenho muito elaborado, nada de sono vir. Desenho uma cobra, uma galinha com pintinhos. Nenhuma cosquinha de sono.

De repende, depois de muitos desenhos (na verdade nem tantos assim), encontro um rabo. Um rabo e depois um chifre. Um boi se forma do nada! Um boi que ainda dava sorrisinho! O sono chega, a cabeça acomoda no travesseiro. Dormirei feliz essa noite por ainda existir um boi para me fazer dormir.

terça-feira, 3 de março de 2009

Indecência de céu.

Sexta, dia 27/02.

Quarenta e poucos degraus me distancia da casa dele.
Um minuto... degrau nenhum me distancia da casa dele.

_Vamos para BH?
_Hoje?
_Agora!
_Mas tá de noite já. Que horas a gente volta?
_9 horas da manhã, no domingo.
_Noite de sexta, noite de sábado por lá? Uau! Quais são os planos?

Sem resposta verbal ele vai com os dedinhos gordinhos no teclado fininho do computador de mesa dele. Dedo no w w w, ele abre o site de um lugar supimpa para cultura alternativa. Na sexta iria ter show de uma banda que eu nunca ouvi falar. Nunca tinha ouvido cantar também, até o momento que ele abre o myspace e põe rodar o som maluquete. O som não motiva, nem desmotiva. Mas me propor ir para BH é que nem propor brigadeiro para criança. As tripas dão pulinhos de alegria, o estômago pesa. Porque nós dois sozinhos num lugar muito longe de casa somos perigosos. Não custa perguntar:

_A gente vai como?
_Fusca. Eu banco toda a gasosa.
_Tá louco! E vamos ficar onde?
_No apartamento de uma amiga minha, ela me emprestou a chave.
_Não vou. Não conseguirei convencer meu fusca de levar a gente até lá.
_Ônibus?
_Balanga, eu enjôo, morro e tu fica sem mim.
_Medrosa!

Saio sozinha e elaboro muitos argumentos interiores para me convencer de que as poucas luzes noturnas de Divinópolis me eram suficientes naquele dia. Ele liga algum tempo depois.

_Olha p’ro céu e aprecia o presente que eu te mando da janela quadrada de um Teixerão* rumo a BH.
_Onde? Onde?!
_No lado que o sol se põe ou nasce, sei lá. Estou sem bússola.
_A lua?
_É.
_Uma lua comendo uma estrela?
_Sim. Escolhe quem você é?
_A Lua.
_Eu estrela.
_Nem se empolgue que a minha consciência de Sol já está dissolvendo essa paisagem.
_O sol demora a vir.
_Então cuidado com as Luas de BH.
_Você tenha o mesmo cuidado com as estrelas de Alfenas.

* Vem de 'Teixeira'. Nome da empresa de ônibus mais usada (se não a única) para ir de Divinópolis (MG) à Belo Horizonte (MG).

domingo, 1 de março de 2009

Apesar de ter blog eu pulo carnaval.

É, eu estou com os dedinhos pinicando mesmo para escrever esses dias. O pensamento também está pinicando. Na verdade é tempo e internet em casa o que me permite postar e ler alguma coisa nessa blogosfera. Sem falar que não tem nenhum livro grossão de Bioquímica ou Histologia perto de mim para sugar meu momento criativo. Eu estou no meu raro momento de descanso senhores. Nada melhor que descansar escrevendo. Nem venham reclamar que eu posto uma vez na vida e outra na morte porque o ato de blogar, para mim, não é compromisso.
No descompromisso então, ponho-me a refletir que blog não deixa de ser um Orkut mais elaborado com palavrinhas.

Há blogs que colecionam comentários como se fossem scraps. Há blogs que colecionam várias formulações de ‘quem sou eu’ como no perfil do orkut. Há blogs que simplesmente existem para levantar a bandeira de intelectualismo: “Ah, eu penso, porque eu escrevo, porque eu tenho blog”. Esses últimos são como uma comunidade.

O meu ex, não mais atual, nunca mais futuro, namorado: Felipe Lacerda conserva mandando alguns alardes por e-mail mais ou menos assim: “Venha conhecer gente que pensa! Acesse http://www.espalhandocancer.blogs.sapo.pt/.!”. Para efeitos propagandísticos a coisa funciona bem. Sempre caio no blog dele quando recebo o e-mail. Agora é inevitável a minha crise sináptica ao questionar a mim mesmo se eu posso ser considerada um ser pensante. Claro, porque eu tenho blog e pertenço à rede de gente que ele pertence: de blogueiros, e mais, de Divinópolis.
Confesso me acometer de uma risada seca.

O embate que eu aciono é o seguinte: Há Bandeiras, e há Bandeiras. Enquanto existe a Bandeira do itelectualismo, das pessoas que se julgam pensar; também existe a Bandeira da cultura massante, do senso-comum, do povo que pula carnaval, que faz festa no ônibus de Itaúna. Nenhuma melhor que a outra! O que incomoda o meu pensamento é a alfinetada gratuita que parte da bandeirapensantejulgosuperior, por exemplo, contra a bandeiraburrasemblogquepulacarnavaljulgoinferior.

A pulga saiu de traz da orelha e foi parar na boca quando eu abri um texto no Descritor. Era sobre um projeto terrorista para destruir uma cidade que caiu na perdição de pular carnaval. O autor, com certeza parte da bandeirapensantejulgosuperior, falou que trio elétrico desova coisa apodrecida no ouvido das pessoas. Para ele carnaval agora é “ferida da humanidade”. O plano terrorista consistia em 116 ressonadores ligados a uma cidade. Eles seriam acionados em fevereiro por um trio elétrico que passasse nas ruas. Em abril, as ondas sonoras teriam abalado toda a estrutura da cidade e ela cairia por terra.

Eu pensei que era só o personagem Ana que tinha toda a prepotência de detonar o carnaval, mas o autor não se limitando a historinha da malvadinha personagem, já tinha soltado um outro texto em primeira pessoa aquém da minha humilde capacidade de entender tanta amargura. Com uma arma o escritor atirava, para não sobrar nada, no expoente de brasileiridade que é o carnaval. Quem pula carnaval, para ele, não tem cérebro. Nas palavras do autor carnaval é: “A soma anual para anestesiar nossa capacidade de fazer perguntas, sentir angústias e evoluir.”

Capacidade de evoluir para onde? Sinceramente Cochise é essa a pergunta necessária que me sobra fazer. Será que um ser evoluído é só o homem que escreve sinfonia, ensaio sociológico ou psicológico? Eu lhe respondo que não. A produção intelectual é, muitas vezes, sem fundamento algum e te leva para uma sensação de ignorância imensa quando você questiona por exemplo, origem de vida, origem de mundo. Talvez a produção de Alegria (em festas de carnaval ou nos ônibus de Itaúna) seja tão inteligente e utilitária quanto a produção que se segue pela razão. Na alegria, endorfina é liberada no corpo, o coração bate melhor, doenças são evitadas. Num contexto sociológico, na folia de Carnaval as pessoas ampliam suas relações sociais, os vínculos de interesse. Enfim, a percepção de ridículo e improdutivo depende do ponto de vista. Um homem vestido de mulher beijando todas numa noite de folia, pode ser tão ridículo quanto um intelectual sobre luz de leitura fazendo questionamentos existenciais.

Como se diz a Lady Katy: “Epa, epa, epa! Fala assim do Salsich...ops Carnaval não!”.

Sim, eu defendo o carnaval e desejo para todo mundo a oportunidade de subir uma ladeira da cidade de Ouro Preto ao som de uma bateria estonteante. A luz daquele lugar é diferente, a vida tem nova concepção.
Tudo bem que nem todo mundo vai quer essa noite de folia e eu respeito isso. Aí está a graça da coisa. As diferenças equilibram os espaços. Agora PENSAR não é definir que um lugar é melhor que outro. Pensar é achar seu jeito de sossegar o coração e a cabeça. Você pode sossegar a mente lendo milhões de livros ou indo em milhões de festas. O conceito de INTELIGENCIA está na capacidade de produzir e viver algo para o seu próprio bem estar.