sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Master, Plus injustiça.

O banco de esperma para boi funciona assim: pega-se o material dos melhores e mais resistentes animais para ser congelado e vendido a lances caríssimos em leilões. Em banco de esperma de gente o quesito ‘resistência’ não costuma ser muito observado. O material mais procurado é aquele que origina ser humano loirinho e de olho azul.

O certo de fazer banco de esperma de gente era pegar esperma de pobre e não esperma de loiro rico. Darwin me daria voz e razão para afirmar que esperma de pobre é mais resistente. O único jeito de pobre viver e ver seus filhos crescerem é não tendo doença nenhuma. Adoecer implica em gastos para desadoecer. Às vezes se gasta muito. Muito mesmo! Nó máximo, no máximo, é permitido ao pobre adoecer de gripe, dor de cabeça e caganeira. Pé rapado que se atreve a ter doença de rico, morre.
É aí que a seleção natural de pobre resistente, produtor de espermatozóide resistente, tem total fundamento. Por serem privados de atendimento humanitário de saúde, pobre que adoece não sobrevive.

Toda reflexão começa nas minhas sólidas observações de que saúde é um comércio sujo, voltado exclusivamente para quem tem dinheiro. Em Medicina observa-se evolução em tudo quanto é área. Equipamento novo para tratar unha encravada do dedo mindinho e o escambal. Mas tudo p’ra quem pode pagar e render lucro os medicozinhos.
O meu primeiro período cursando ciências médicas me permite observar um monte de jovenzinhos já matutando como vão recuperar os R$3718,00 (Três mil setecentos e dezoito reais!) gastos, por mês, para quitar a faculdade.

A ambição nas áreas médicas é obscena mesmo e parece que muita coisa podre advém disso. Eu estudei na disciplina de ‘Saúde infantil’ que tem teste do pezinho para pobre e teste do pezinho para rico. Teste do pezinho para pobre é o básico gratuito fornecido pelo SUS e identifica apenas 5 doenças. Teste do pezinho de rico pode ser o Ampliado, o Plus, o Master ou o Expandido. Vai do bolso e do gosto do freguês. O Ampliado identifica sete doenças e o Master mais de 16 doenças!

O teste do pezinho deve ser feito até o quinto dia de vida da criança, porque identifica doenças graves como a Galactosemia que exige ações imediatas sobre o recém-nascido. Um bebê com Galactosemia, por exemplo, deve ser imediatamente proibido de mamar, sujeito a morte se isso não acontecer. Um ser galactosemico tem intolerância à substância galactose presente no leite, porque não consegue metabolizá-la. O excesso de galactose no sangue do ser doente vai causar morte sem o socorro em tempo.

O teste do pezinho do SUS não identifica a Galactosemia. Pobre com Galactosemia morre simplesmente por não ser avisado que não podia tomar leite.
Pobre galactosêmico que, por sorte, juntou dinheiro para o teste Plus, morre também. A dieta na ausência de galactose exige suplementos caros. Sem dinheiro para comprar, passa-se sem.

O jeito é torcer para o espermatozóide ser bom para beber leite. Engraçado que, no boi, espermatozóide bom é para dar leite. Evitemos comparações para eu também não me complicar confundindo gente com animal.

A gente não muda muito não!

Encontrei na minha pasta de arquivos já publicados no blog uma autodescrição de mim mesma que na verdade nunca foi parar como texto nesse blog. Eu procuro evitar essas postagens meio ‘diário – emo’ no Chuva de Containers. Mas às vezes, é bom falar da gente mesmo, ainda mais quando se pretende deixar um blog para os netinhos lerem. O texto foi escrito em 2007 e apareceu algumas vezes na internet quando eu, Mariana Martins, era surpreendida pela pergunta “Quem sou eu?”.

Muita gente fica com firulas e versinho para engabelar essa pergunta. E ainda tem aquele que fazem pinta de misterioso na linha “Só sei que nada sei”. Tudo viadagem ou falta de criatividade, com já dizia meu curto e grosso amigo Matteus. Você é o que você cria. Se eu falar que sou astronauta, aí de quem brigar comigo que não sou.

Um segredinho: A gente só é interessante quando a gente é arrogante para falar que é Tudo. Mesmo que o Tudo seja fantasia, é muito bom lembrar que a gente é palco sempre, mesmo sem espectador.

Texto de 2007, pouca coisa é diferente. A toalha de banho ainda é verde. A unha cresceu, mas está lixadinha e bem feita. Os casos de apaixonamentos e desapaixonamentos superam cinco vezes. Minha irmã continua encalhada e decidi fazer Medicina, não Engenharia. Engenheiros do Hawaii era engraçadinho na minha época Pseudocult começando a blogar. Ah, eu adoro meu fusca de bunda redonda. As camisas do Che e de Minas Gerais ainda estão passadinhas e em bom estado de uso. Budapeste escreve assim mesmo e é a capital da Hungria que fica na Europa. Não tem nada de peste em Budapeste e se tiver eu ainda continuo sem saber. Não tenho mais dinheiro no banco para casar e talvez eu não aprenda tocar piano e sim gaita.

Tudo que um dia já quiseram (e ainda continuam querendo) saber about me (na íntegra):

Tenho uma toalha verde e não tomo banho sem ela.
Não como unha, mas não deixo ela crescer. Li em algum lugar que depois que a gente morre os cabelos e as unhas crescem. Como não sei quando vou morrer e não quero ter unhão mal feito dentro do caixão... tá aí a explicação.
Não tenho medo de barata, mas tenho muito nojo.
Já comi caranguejo, ostra, lula, caviar e rã.
Já me apaixonei e desapaixonei cinco vezes (duas dessas, pela mesma pessoa) por causa de frases Gessingerianas sussurradas ao pé do ouvido.
Gosto de alguém que nem sonha com isso.
Conheço o mar. Morreria se passasse mais de um ano sem vê-lo... e sem ver uma pessoa de lá também.
Não sei fazer comida.
Tenho mais amigos homens que mulheres.
Quero ter um Honda Civic preto.
Tenho uma irmã linda que está precisando de namorado p’ra parar de encher o saco da minha vida de encalhada.
Não decidi se quero fazer Engenharia ou Medicina. Na dúvida ainda continuo com a Biologia.
Eu também amo os Beatles e os Rolling Stones, acima de tudo e todos: ENGENHEIROS DO HAWAII.
Nasci com cabelo.
Aprendi a falar primeiro que andar. Até hoje não aprendi a andar direito.
Não consigo ficar mais de um minuto perto de uma pessoa sem falar nada.
Não passo creme de pele.
Só uso calcinha de algodão. Renda never.
Odeio perfume forte.
Odeio gente fresca.
Não aceito balas nem carona de estranhos (aprendi isso quando pequena, hoje vale para os marmanjos esnobes que pensam poder impressionar com um carro).
Não gosto de bebida.
Não ajudo nenhum amigo bêbado e não vejo a menor graça em contar vantagem porque bebeu.
Não suporto cigarro.
Adoro dançar. Funk, forró, bolero, de tudo.
Sou muito manoteira com foto. Já fiz cada coisa para registrar alguns momentos....
Toda vez que recebo dinheiro confiro na frente da pessoa se não é falso.
Sou pão dura mesmo!!! Um Honda Civic é muito caro e é necessário economizar.
Odeio carro com a bunda redonda.
Tenho uma camisa do Che.
Tenho uma blusa com a bandeira de Minas Gerais.
Sei em quem votei na última eleição. Vejo horário político.
Sou partidária do PT.
Já fui a um comício do Lula.
Já fui num show do Latino.
Já fui à palestra do Marcos Pontes.
Até hoje não acredito que se tenha gastado tanto dinheiro para mandar um astronauta nosso para o espaço. Incomoda-me ver, que, enquanto isso, há milhares de pessoas passando fome.
Ainda acredito no Mercosul.
Ainda acredito no Brasil.
Ainda acredito na educação.
Preocupo-me com o aquecimento global.
Procurei caderno de folha reciclável, mas não encontrei.
Não recebo folhetos de propaganda, para não poluir a cidade.
Já tive o sonho de ser gari.
Coloco nome nos meus sapatos. Sou viciada em sapatos.
Tenho uma caveira em meu quarto.
Meu violão tem nome.
Não li metade dos livros que disse ter lido, mas gosto de ler e ainda pretendo lê-los.
Não fui à metade dos lugares que disse ter ido e não pretendo nunca ir.
Sou apaixonada pela minha família.
Já dancei funk com a minha vó.
Já fui ver a piracema do Rio Itapecerica com meu pai.
Já acordei ouvindo uma serenata de sanfona do meu Vô: “Diga adeus Mariana que eu já vou embora...” Só aturo sertanejo se for ele que estiver cantando.
Meu padrinho encapa todas as goiabas no pé lá da roça para protegê-las dos bichos. Isso porque sabe como gosto da fruta.
Minha mãe corta minha unha do pé.
Já tive uma tartaruga (acho que cágado), um canarinho fêmea e um peixe desses que a gente pescava nas festas juninas. Todos morreram!
Não sei onde fica Budapeste... nem sei se é assim que escreve.
Não posso usar óculos escuros porque já uso de grau.
Se eu estiver sem óculos e passar por você, por favor, atire-se na minha frente para que eu lhe cumprimente. Caso contrário, desista.
Gosto de xadrez e tenho pavor de dama. (Culpa do meu pai que sempre rouba de mim)
Já tenho dinheiro no banco para casar. kkkk
Não quero casar.
Tenho TOC.
Gosto de vôlei.
Quero aprender tocar piano.
Quero escrever um livro.
Quero ficar rica... (não com o livro)
Quero um homem mais macho do que eu.
Não quero que ninguém me odeie, nem quero odiar ninguém.
Quero ser bem mais feliz do que sou!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Falta. Culpa. Presença.

É relevante contar para vocês leitores que a pessoa que vos escreve sempre fingiu de descrédula e debochadora de todas as crenças por cores, números, cheiros e afins. Isso faz parte se um disfarce de mulher segura, de fibra forte e senhora do seu destino. Acontece que a minha expatriação de Divinópolis expôs minha fragilidade. Nesse momento eu me curvo sobre um monte de palavras que escapolem sem controle da minha mão. O fato é que começo a crer e sentir falta das cores, dos números, do cheiro e da harmonia que eu vivia antes.

A inquietação é pela troca de vidas que me propus. Eu fui parida numa cidade que desconheço, no meio de muita gente que também é estranha. Desde o início, os planos eram de congelar meu mundo em Divinópolis para dar tempo de viver tudo aqui, em Alfenas; e depois, quando se passassem os meus seis anos de graduação, viver tudo por lá, em Divinópolis. Tudo sem que nada mudasse. A minha possessão consistia em impedir que ninguém vivesse nada lá (em Divi) enquanto eu não estivesse presente. Em desagrado, as pessoas que ficaram na minha terra continuam amando, trabalhando, planejando suas vidas.

Talvez a única forma de saciar parcialmente a minha ânsia por estar em dois lugares ao mesmo tempo fosse voltar todos os finais de semana para minha terra. Alfenas não tem ônibus com escala direta para Divinópolis. Quarta os meus olhinhos correram todas as placas de carro da Universidade. Foi uma busca louca e sem sucesso. Se eu quisesse ir para São Paulo encontrava muitas caronas. Nada sobre habitantes de solo conhecido.

Vontade de voltar eu tenho toda hora e não há um motivo certo para isso. Talvez seja por causa de gente que ficou, talvez seja por causa de coisas que não posso trazer. Talvez seja a concepção de lar que ainda não se transferiu para Alfenas.

Um mocinho que sentou comigo no degrau da escada de veterinária percebeu e questionou se o meu desatino tinha a ver namorado. Limitei-me a responder que não tenho namorado, mas evitei maiores detalhes. Ele não poderia saber da minha lista de desajeitos. Não me ajeitei o poeta torto sem lenço, sem documento, sem passaginha. Não me ajeitei com o Deus grego que andava de fusquinha branco. Não me ajeitei com o tarado do MSN que conheci num show do Gessinger. Não me ajeitei com o galanteador que me ligava em todas tardes de dias ímpares da semana. Não me ajeitei com o peão que dizia aparecer em Divinópolis só para me ver. Não me ajeitei com o meu herói de prisão de barraquinha.

Eu acho que eu não sei amar... mas ta aí uma coisa que eu sinto falta: Simplesmente sinto falta de gente que me ame. Ou finja que me ame.

Eu sinto falta de gente que me ofereça Trident de canela, que me fale que eu fico linda de vermelho. Eu sinto falta de uma casa para visitar de fusca nos finais de semana. Eu sinto falta de bocas p’ra beijar, de cheiros impregnando no meu pescoço. Eu sinto falta de gosto de sal do suor na minha boca, do vidro do carro embaçado. Eu sinto falta de receber flores, mesmo que estas sejam únicas e de plástico.

Eu sinto falta. Eu sinto falta, mas não quero tudo de volta. Eu sinto falta porque preciso reconhecer o que é necessário refazer de novo.

E assim Divinópolis você será temporariamente substituída. Querida cidade, por favor, guarde bem aquilo ou aquele que tem por sina ser meu, que tem por sina me pertencer. Eu sei que muita gente vai me esquecer, mas eu sei que ainda vai ter alguém a me esperar de braços abertos quando voltar. Aí, a vida começa de novo na sua intensidade merecida.

Eu escrevi esse texto na quinta, dia 19 de fevereiro. Mas quando fui tentar postar na lan house sexta dia 20, eu só salvei o rascunho e não o publiquei. Desculpa o embaraço senhores leitores!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Progressos Marianísticos.

Eu nunca saí de casa por mais de um, dois dias. Sou do tipo filhotinho garrado na barra da saia da mamãe. Essa semana, contudo, além de sair da casa eu mudei de cidade para estudar. O fato é que até então, comida, roupa lavada e casa limpa eram providências divinas que chegavam em tempo certo na minha mão. Tudo mudou, e muito!

A minha atual casa é pequena. Tem um quarto, uma cozinha, um banheiro e um quintal relativamente grande. Seria muito simples cuidar desse espaço não fosse o meu natural despreparo e meu estado de preguiça em evolução. Contudo, não posso mais fugir dos afazeres domésticos e até cozinhar tenho arriscado. Ontem mesmo, eu, corajosamente, experimentei um processo de faxina, lavagem de roupa, detetização e de cuidados com o quintal.

As mais simples coisas que acontecem com Mariana Martins adquirem um toque tragicômico anormal. Os eventos ocorridos no seu desempenho doméstico não poderiam ser diferentes. Acontece que muita gente chega duvidar da maluquices que narro aqui e muitos acham que é tudo conversa p’ra boi dormir. Para deleite dos meus amados leitores dessa vez fotografei tudo o possível, inclusive meu quase enfarte por causa de formigas. A lá Nelma e suas larvinhas.

A visita dos repugnantes seres carregadores de folha, que, na minha casa, carregavam era a minha açúcar, ocorreu no momento que eu lavava as vasilhas da gororoba do almoço.

1º a gororoba é claro! Com suquinho de uva para desembuchar com estilo. Detalhe nos muitos nutrientes evidenciados pela coloração dos componentes. (Mainhê! Nem vem que pelo menos tava nutritivo. Hehe)

Depois de qualquer gororoba tem-se o processo óbvio de lavagem da louça. Então uma formigona aparece isolada em cima da torneira. Eu pego a bucha de sabão e massago (eu sei essa palavra não existe, mas eu quero usar ela mesmo)... continuando ...eu massago a pobre da formiguinha com a bucha de sabão. Logo depois aparece mais duas e de imediato recordo que a situação não é estranha. Tem muito pouco tempo que dona Nelma, minha mãe, passou por descobertas gradativas de larvinhas tal como eu estava passando por descobertas gradativas de formigas. Com o preparo de experiências anteriores, eu descubro um aglomerado assustador de formigonas bem atrás da minha lata de açúcar. Como ato conseqüente, lá vai eu travar uma guerra na minha cozinha com um exército de trezentas delas. A arma que eu usei é hereditária de mamãe, o álcool. Mostrou-se muito eficiente no combate das larvinhas e agora, no combate das formigas também. Hehe

Formigas mortas p’ra quem quiser ver.

Então, limpar a casa foi só tacar água em tudo e puxar com rodo. Ok, eu ainda devo aproveitar esse post para comunicar à minha mãe que eu lavei todos os paninhos que usei para limpar a casa. Uma evolução, porque quando eu arrumava a casa para ela nunca dava fim na confusão de panos que eu usava para dar jeito em tudo. Ela vai ficar muito orgulhosa.
Ah mãe, eu lavei meu tênis!


E para finalizar esse tópico só quero aproveitar minha safra de fotos e mostrar a preocupação social desse blog e da autora. Eu eliminei os focos de dengue no meu quintal. Mamãe! Não precisa chorar de emoção! Hehe.
Combata da dengue você também!


E assim sigo aprendendo mais coisas úteis para a vida. Bjão para todo mundo! Em breve dou qualquer sinal de vida.