quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Santa Catarina é aqui!

Eu moro no Brasil, um país que fica relativamente no meio da placa tectônica sul-americana. O povo que vive aqui é protegido de maremotos e terremotos em níveis altos da escala Richter. O Estado que vivo é Minas Gerais e as chuvas aqui – pelo menos na região centro oeste dessa unidade federativa que é onde fica a minha casinha – têm ciclos regulares. Isso é muito útil para o homem plantar e a região quase nunca passa por escassez de água para consumo. A cidade que me acolhe é Divinópolis e se gaba de ser a quinta melhor de Minas Gerais. Mais de 80 % do povo daqui tem água limpa tratada chegando em casa, bem como canalização de esgoto, que apesar de não ser tratado não fica na cidade e vai embora pelo rio Itapecerica. O bairro que eu moro é bom, fica perto do centro e tem muitas ruas e casas bem estruturadas. A minha rua é calçada e tem quatro árvores bonitas, duas da quais se enchem de flores amarelinhas toda primavera.

Ataque terrorista, maremoto, vendaval, neve, terromoto, seca, redemoinho, erupção vulcânica, tsunami, chuva de mais, chuva de menos. Tudo isso sempre me pareceu produção holiwoodiana porque felizmente aconteceu bem longe do refúgio que é o meu lar. E quando qualquer desastre desses acontecia, era pela televisão que ficava sabendo de tudo, com direito a melhores imagens, gente chorando que nem em filmes, desgraça acontecendo que nem nos filmes.

A quantidade de desgraças foi se avolumando na TV e as cenas que trazem pessoas e mais pessoas morrendo e sofrendo são comuns. Tudo contribuiu pela minha insensibilidade às coisas ruins que acontecem no mundo.

Na madrugada do dia 17 para o dia 18 de dezembro, contudo, desgraça aconteceu bem perto da minha segura residência. A insensibilidade que ousava sustentar foi infelizmente quebrada por um monte de casas inundadas até o teto. E essas casas se distanciavam no máximo há quatro quarteirões da minha casa! A água do rio Itapecerica recebeu um volume de água grande por demais da leva de chuvas que aconteceu na região. Subiu quase sete metros além do leito normal do rio e inundou casas e edificações da população que vive às margens do rio e às margens do córrego Flecha que atravessa a cidade. A força e a quantidade de água nos rios interditaram quatro pontes da cidade. Ainda cerca de 200 mil habitantes ficaram sem água por cerca de três dias. Já que a estação de tratamento foi completamente inundada.

Enfim, é muito ruim ter de ver tragédia acontecer perto da gente para acreditar que elas acontecem. Eu peno em saber da fragilidade de todos nós diante das muitas intempéries que nos pegam de surpresa. O meu pedido para o papai Noel é que ele ajude as famílias a reconstruir os danos causados pela enchente e que ele proteja as árvores da minha rua contra qualquer coisa braba da natureza que possa impedir o aparecimento das flores amarelinhas da primavera.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Parabéns vovô!

Meu vô fez oitenta e três aninhos esse mês que passou! Eu descobri qual era a sua idade certinha porque minha vó dedurou o ano em que ele nasceu, o que me permitiu calcular. Se dependesse do livre depoimento do aniversariante ele falava que era 38 anos e com um pouquinho mais de inteligência eu teria deduzido que se tratava de uma inversão (83 / 38).
O meu velhinho ainda se gaba de fazer o quatro com as pernas.

Ele está forte, não toma nenhum remédio. Vive na roça e cansa de avisar para os netos que a gente tem de para de comer coisa industrializada para viver mais. Mas o vô abusa da gordura de porco e isso não é muito bom. Ele fala que inhame é depurador do sangue, 'Oropunobre' tem um montão de proteína e 'Arnica' cura qualquer machucado.

Ele não gosta do barulho da cidade, mas gosta quando os netos e filhos fazem barulho no seu sítio. E quando muita gente está reunida na varanda da sua casa, ele pega um acordeom bonito, vermelho, bem guardado dentro de uma cômoda. Os dedinhos durinhos, calejados da lida na roça, começam a dedilhar devagar uma canção. A canção é conhecida, a felicidade dele é conhecida.

O som de sanfona vai se misturando com a fumaça do fogão de lenha. O terreiro varridinho é iluminado por um sol forte. A roda de água que agoa as verduras na horta parece começar girar no compasso da música. Vovó larga de picar o frango e vai cantar também. A minha prima de colo balança o pesinho em sinal de agrado. Um pega uma panela, outro uma caixinha de fósforo e o resto ajuda com a voz. O vô grita:

_ Mariana, pega o violão e vem me ajudar!

E esquecendo do meu abandono ao aprendizado do instrumento eu redescubro que a felicidade pode surgir de poucos acordes.

Parabéns vô pela simplicidade e alegria que o senhor ensina a toda família!