sábado, 1 de maio de 2010

Cardiograma do coração de uma rã.

Sabe uma reflexão boa de se fazer antes de aprender qualquer coisa? A indagação de como alguém chegou àquela conclusão. E aí você percebe uma coisa interessante em tudo que o homem descobriu até hoje. Tudo parte de idéias simples. E essas idéias simples, eu ou você poderíamos ter tido. Até o computador - essa ultra-power-mágica máquina que não fazermos a mínima idéia de como chegou a potencialidade de hoje – vem de circuitos simples que foram amontoados numa grande sala. É do conhecimento de vocês que o primeiro computador ocupava todo o espaço dessa sala, pesando toneladas.

Sempre atenta a genialidade das coisas simples, essa semana eu me encantei com uma aula prática aqui da Faculdade de Ciência Médicas de Alfenas-MG. Uma aula da disciplina de Fisiologia com o propósito de analisar a atividade do coração de uma rã. O registro dessa atividade chamamos de ‘Cardiograma’. Cardiograma é diferente de Eletrocardiograma. O primeiro registra a atividade do coração: suas sístoles e diástoles. O segundo registra a variação dos potenciais elétricos gerados para promover o batimento.

A aula que narrarei foi para obter o Cardiograma. Assim, era importante o movimento do coração da rã: seja de contração, seja de relaxamento. O registro necessário a se fazer era quanto a variação da força de contração (inotropismo) e da freqüência de contração (cronotropismo). Modificações do cronotropismo e inotropismo foram induzidas aplicando substâncias como: adrenalina, acetilcolina, solução isotônica fria, solução isotônica quente, pilocarpina e atropina.

Mas como observar se o coração batia mais forte ou mais fraco? Mais rápido ou mais lento? Com os olhos? NÃO! Seu olho pode ser o mais esperto que existe, mas o pequeno coração da rã (mede 2 dedos mais ou menos) não lhe passa informações significativas só de olhar. Aí, alguém (que não sei quem é) desenvolveu uma engenhoca simples e brilhante, que permitia ver perfeitamente as variações na força e na freqüência com que o coração batia. É essa engenhoca que foi reproduzida na minha aula prática de Fisiologia.

Precedimentos:

Sacrifica-se uma rã pela destruição do seu sistema nervoso central. É feito um furo na região cervical do anfíbio seccionando essa parte da medula. O objeto pontiagudo caminha depois pela medula espinhal do anfíbio, destruindo-a toda. Em seguida, destrói-se a parte cerebral pelo mesmo acesso do furo cervical. Animal morto, hora de dissecar o coração. O esterno é arrancado num corte em ‘v’ e o bisturi rompe o pericárdio para se acessar o órgão. O coração da rã continua batendo por um bom tempo depois da morte. Isso porque esse órgão tem também uma despolarização que independe do Sistema Nervoso Central. O nosso coração também continuaria batendo numa morte por destruição do Sistema Nervoso. Mas fatores associados ao tamanho do nosso corpo e a diminuição do sangue que irriga o nosso coração, diminui para um tempo mínimo o período que o órgão bate independentemente.

Com o coração da rã exposto, hora de adaptar a engenhoca.

Um ganchinho (tipo um anzol) pinça o ápice do coração (a ponta do órgão). Nesse gancho é amarrado numa linha, que por si, é fixada ao terminal de uma vareta fina por uma massinha dessas coloridas de escola. A vareta se encontra suspensa em alavanca: Uma extremidade com a linha amarrada e a outra extremidade com uma agulha adaptada para cravar o registro de movimento da vareta. Na frente da agulha da vareta, um papel impregnado por pó de cânfora - e colado em um tambor - gira vagarosamente pelo movimento de um motorzinho adaptado. O coração da rã contrái, puxa a vareta, a agulha levanta e crava no papel (removendo o pó dele) uma curva ascendente que indica a sístole do coração. O coração relaxa, a vareta volta ao normal e o registro da agulha é uma curva descendente.

A altura da curva indica a força com que o coração bate (inotropismo) e o número de curvas indica a freqüência com que o coração bate (cronotropismo). Curvas muito próximas indicam uma freqüência maior.

Apartir daí, sem mexer no experimento armado, são adicionadas separadamente as substâncias já mencionadas: adrenalina, acetilcolina, solução isotônica fria, solução isotônica quente, pilocarpina e atropina. Alterações na curva de batimento normal são observadas.

Simples assim!

Foi daí que surgiu tudo de mais arrojado que hoje existe para entender o nosso nobre órgão. Foi daí que outras pesquisas se somaram para fazer todos os corações baterem bonito. ;-)




Os resultados, talvez, interessem mais às pessoas com conhecimento na área de saúde, mas os descrevo aqui.

Adrenalina (neurotransmissor do Sistema Nervoso Simpático): Inotropismo e Cronotropismo positivo. Força e freqüência do coração aumentam. O tamanho das ondas aumenta e se observa mais ondas num menor intervalo de espaço do papel.

Acetilcolina (neurotransmissor do Sistema Nervoso Parassimpático): Inotropismo e Cronotropismo negativo. Força e freqüência do coração diminuem. O tamanho das ondas diminui e a freqüência das ondas também.

Solução isotônica quente (Simula situação febril. Ringer na temperatura de 37º, que, para a rã, é hipertérmico): Inotropismo negativo e Cronotropismo positivo. Há um mecanismo compensatório. A febre leva a diminuição da força com que o coração bate, mas o órgão aumenta o número de batimentos por minuto.

Solução isotônica fria (Simula hipotermia. Ringer a 4º): Inotropismo positivo, Cronotropismo negativo. O mecanismo compensatório é inverso. O coração bate menos vezes por minuto, mas com maior força.

Pilocarpina (Deve ser administrada antes da Atropina. É um parassimpatomimético, ou seja, mimetiza o neurotransmissor do Parassimpático: Acetilcolina. Tem, portanto, mesmo efeito da Acetilcolina): Inotropismo e Cronotropismo negativo.

Atropina (Se liga aos receptores para acetilcolina e bloqueia sua ação. Mesmo efeito da Adrenalina): Inotropismo e Cronotropismo positivo.

Desdobrar a fé.

A lenda conta que...

... aquele que dobrar 50 mil origamis consegue o que quiser.

A menina tinha uma doença ruim, dessas que não se fala o nome para não atrair de jeito nenhum a possibilidade de ter o mal para si. Ela dobra um, dois e outros muitos papéis. O desejo final era a cura da coisa ruim.

Com 48 mil origamis, ela morreu.

(o @rodrigoocariz me contou)