sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Falta. Culpa. Presença.

É relevante contar para vocês leitores que a pessoa que vos escreve sempre fingiu de descrédula e debochadora de todas as crenças por cores, números, cheiros e afins. Isso faz parte se um disfarce de mulher segura, de fibra forte e senhora do seu destino. Acontece que a minha expatriação de Divinópolis expôs minha fragilidade. Nesse momento eu me curvo sobre um monte de palavras que escapolem sem controle da minha mão. O fato é que começo a crer e sentir falta das cores, dos números, do cheiro e da harmonia que eu vivia antes.

A inquietação é pela troca de vidas que me propus. Eu fui parida numa cidade que desconheço, no meio de muita gente que também é estranha. Desde o início, os planos eram de congelar meu mundo em Divinópolis para dar tempo de viver tudo aqui, em Alfenas; e depois, quando se passassem os meus seis anos de graduação, viver tudo por lá, em Divinópolis. Tudo sem que nada mudasse. A minha possessão consistia em impedir que ninguém vivesse nada lá (em Divi) enquanto eu não estivesse presente. Em desagrado, as pessoas que ficaram na minha terra continuam amando, trabalhando, planejando suas vidas.

Talvez a única forma de saciar parcialmente a minha ânsia por estar em dois lugares ao mesmo tempo fosse voltar todos os finais de semana para minha terra. Alfenas não tem ônibus com escala direta para Divinópolis. Quarta os meus olhinhos correram todas as placas de carro da Universidade. Foi uma busca louca e sem sucesso. Se eu quisesse ir para São Paulo encontrava muitas caronas. Nada sobre habitantes de solo conhecido.

Vontade de voltar eu tenho toda hora e não há um motivo certo para isso. Talvez seja por causa de gente que ficou, talvez seja por causa de coisas que não posso trazer. Talvez seja a concepção de lar que ainda não se transferiu para Alfenas.

Um mocinho que sentou comigo no degrau da escada de veterinária percebeu e questionou se o meu desatino tinha a ver namorado. Limitei-me a responder que não tenho namorado, mas evitei maiores detalhes. Ele não poderia saber da minha lista de desajeitos. Não me ajeitei o poeta torto sem lenço, sem documento, sem passaginha. Não me ajeitei com o Deus grego que andava de fusquinha branco. Não me ajeitei com o tarado do MSN que conheci num show do Gessinger. Não me ajeitei com o galanteador que me ligava em todas tardes de dias ímpares da semana. Não me ajeitei com o peão que dizia aparecer em Divinópolis só para me ver. Não me ajeitei com o meu herói de prisão de barraquinha.

Eu acho que eu não sei amar... mas ta aí uma coisa que eu sinto falta: Simplesmente sinto falta de gente que me ame. Ou finja que me ame.

Eu sinto falta de gente que me ofereça Trident de canela, que me fale que eu fico linda de vermelho. Eu sinto falta de uma casa para visitar de fusca nos finais de semana. Eu sinto falta de bocas p’ra beijar, de cheiros impregnando no meu pescoço. Eu sinto falta de gosto de sal do suor na minha boca, do vidro do carro embaçado. Eu sinto falta de receber flores, mesmo que estas sejam únicas e de plástico.

Eu sinto falta. Eu sinto falta, mas não quero tudo de volta. Eu sinto falta porque preciso reconhecer o que é necessário refazer de novo.

E assim Divinópolis você será temporariamente substituída. Querida cidade, por favor, guarde bem aquilo ou aquele que tem por sina ser meu, que tem por sina me pertencer. Eu sei que muita gente vai me esquecer, mas eu sei que ainda vai ter alguém a me esperar de braços abertos quando voltar. Aí, a vida começa de novo na sua intensidade merecida.

Eu escrevi esse texto na quinta, dia 19 de fevereiro. Mas quando fui tentar postar na lan house sexta dia 20, eu só salvei o rascunho e não o publiquei. Desculpa o embaraço senhores leitores!

2 comentários:

Anônimo disse...

Qual a certeza de que te esperar por 6 anos vai te ter?

.ailton. disse...

Olha o Matteus preocupado.

e ninguém, absolutamente ninguém, pode ficar lindo de vermelho.