sábado, 15 de novembro de 2008

"Oh Tiiia! Olha a janela esquisita que apareceu aqui!"

Cartinha para a professora. (Clique e amplie!)

Minha madrinha me alertou de ir trabalhar com os cabelos amarrados sobre o risco de pegar piolho. Eu tratei de arrumar logo muitas buchinhas porque o risco é multiplicado por 300, contabilizando que essa seja a quantidade de alunos que arrumei. Trata-se do meu novo emprego: o de professora. Não sou professora de Biologia em condizência a minha formação acadêmica em andamento, mas uma efetivada professora de informática em uma Escola Municipal da cidade de Divinópolis - MG.

O fato é que sempre odiei trabalhar. A frase ‘O trabalho engrandece e dignifica o homem’ me soava injusta e a todo tempo me perguntava que homem era esse quem saía engrandecido. Com certeza não era o homem trabalhador e sim o seu patrão.
O que dignifica você é o ócio! E isso é fato. Só adquirindo um tempo para ler livros, comer rapa de comida de mãe e para tirar à pinça todos os cabelinhos da canela, que o ser humano – pelo menos o ser humano Mariana - produz algo de útil para ele mesmo.

Eu pensava bem assim. Continuo pensando. Mas além de acreditar que o trabalho deve te engrandecer, passei a acreditar em uma segunda utilidade: o de engrandecer o próximo ao prestar serviços e ser útil aos que necessita.
Isso passa bem perto de voluntariado, mas a remuneração é necessária para atender também a idéia inicial de engrandecimento pessoal.

Eu estou vivendo uma experiência parecida. E cada dia que passa me sinto mais realizada e contente com que faço. A atividade remunerada que exerço é a serviço de crianças de uma comunidade periférica da cidade onde moro. Crianças de uma região carente em recursos físicos, onde palavra ‘computador’ soa - ou pelo menos soava - algo distante.

Numa pesquisa por meio de um questionário de cinco perguntas, eu levantei o perfil dos alunos com quem trabalharia. Era para conseguir identificar o nível de conhecimento deles em relação à informática e as expectativas de aprendizagem sobre o assunto. Constatei que cerca de 40% dos estudantes nunca tinham acessado uma máquina e 30% deles mexeram uma vez ou outra em casa de vizinhos, lan houses e outros. Quando perguntei sobre a expectativa para com o laboratório de informática, nenhum aluno marcou a opção ‘poucas expectativas’.

E eles não estavam mentindo só porque o questionário exigia identificação do nome e turma. As expectativas são realmente grandes! A exemplo, não há um dia da semana em que pelo menos uns 10 alunos me parem andando pelos corredores e perguntem: “Tia! Que dia que eu posso mexer no computador?”.
Sim, eu arrumei cerca de 300 sobrinhos! E estou até confundindo. Se perguntarem meu nome, eu respondo ‘Tia’ e espero que compreendam.

A primeira aula eu trabalhei o ‘Paint’ com a escola inteira. Desenho livre com o mouse para adquirirem intimidade com esse hardware. Exceto as raras pessoas com curso de computação, os meus demais alunos usaram o simples programa com um olhar de deslumbre. Um aluno de 5 anos da primeira série fez um risquinho preto na tela em branco e caiu em gargalhada. Era um riso tão bom e puro de se ouvir, que ri com ele e me emocionei.

A escola tem apenas 10 computadores para 16 turmas. A sala onde eles ficam é apertadinha e um teclado já veio quebrado. Se chove, o terceiro computador do lado direito molha porque tem goteira sobre ele. Estudam lá alunos desde o antigo de ‘jardim de infância’ aos da oitava série. É uma loucura adequar a forma de ensinar para todas as idades. Tudo parece conspirar contra a oportunidade da minha galerinha de aprender.

Apesar dos pesares, eles continuam tendo aula. E eu, mesmo diante de tantas dificuldades, não vou esquecer de contrapor tudo ao sorriso daquele menino. É para engrandecer, tornar grande essa criança, que quero trabalhar a partir de agora.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que bonito, Mariana!! Vou ficar torcendo por você aqui, tá? Boa sorte!!

Apareça mais, seus posts fazem falta no Planeta...

Unknown disse...

o pulo do gato é o trabalho ser algo a ser feito com satisfação, não ficar satisfeito com o trabalho.

nobreza, caridade, etc.
muito bom isso.
admirável atitude a sua.

Anônimo disse...

Eu tbm queria ter uma professorinha de computação que nem a Naninha, rsrs ela é gatona, e muuuuito inteligente rsrs os alunos dela tem muita sorte rsrs