Ontem eu estacionei o buzungão bunitinho na faculdade, próximo aos portões de entrada. Buzungão é o meu fusquinha. Ele toma banho regularmente e é um exímio exemplar conservado, ano 77 e que desperta admiração de muitos adoradores de Volks por aí.
Nós dois, eu e o fusca, chegamos adiantados na faculdade ontem. A gente ficou parado debaixo de árvores fresquinhas do estacionamento e como faltavam mais de meia hora para começar a aula, aproveitei o tempo livre descansando nos bancos da frente do carro. Eu dobrei os joelhos que se acomodaram no banco do passageiro. Pus um pano no caroço que machucava do freio de mão e acomodei o tronco do meu corpo. Abri a porta do motorista e deixei a cabeça para fora meio largada. Observava as fendas de sol que vazavam das folhas das árvores e ouvia O Teatro Mágico pelo walkman (Tá bom, eu sei que é mp3 mais o nome ‘Homem que anda’ é bem mais condizente ao aparelhinho que traz a voz de um homem andando com você).
No alto da empolgação - ouvindo a música Zazulejo, achando que o sol era todo meu e tocando violino no ar - chega um idiota de um passarinho e defeca bem na lente esquerda dos meus óculos. Ai que ódio! Quero deixar expressa aqui a minha revolta com as aves que pensam que o meu fusquinha é banheiro delas. Tudo bem que ele é um carro irresistível e com certeza um dos banheiros mais asseados que os passarinhos poderiam encontrar, mas será que não existe mil-e-outros lugares para eles fazerem as necessidades deles? O passarinho que cagou nos meus óculos com certeza era macho. Nem acertar o vaso sanitário - que os passarinhos convencionaram ser meu fusca – ele conseguiu acertar. Errou a mira e acertou os meus óculos. Que nojo!
Ótimo! Mas não só passarinhos amam fuscas limpinhos como moçoilas casadoiras também.
Muitas coisas acontecem num mesmo dia e nesse mesmo dia eu e o buzungão recebemos um bilhete. A aula da tarde tinha acabado, pegaria o carro para voltar para casa. Um papel curioso me aguardava no chão próximo a porta do motorista. Era um bilhete da Marília.
“Oi, meu nome é Marília vou me casar em outubro e estou procurando um carro bem bonito p/ me levar na igreja eu achei o seu lindo. Será que vc poderia fazer o favor de me ligar para ver a possibilidade. Meu nome é Marília e meu telefone é (xx) xxxx xxxx. Me desculpe pelo incomodo! Obrigada!”

Bem, eu estou em dúvida. O bilhete pode ter sido para o carro esteve estacionado do meu lado. Contudo, são grandes as possibilidades do interesse de Marília ser pelo meu fusquinha mesmo. Eu já tive essa idéia antes: Chegar ao meu casamento num fusca branco cheio de coraçõesinhos vermelhos, latinhas amarradas atrás e um monte de gente jogando arroz. O bom é que o arroz escorre nas curvaturas redondas do carro. Se algum convidado joga arroz carregado de más vibrações, nenhum grão fica retido no fusca. Não hei de perder tempo e vou tratar de ligar logo para a moça. Nada, nada, posso estar diante da possibilidade de faturar cenzinho! Tlim! Tlim!