O meu velhinho ainda se gaba de fazer o quatro com as pernas.
Ele está forte, não toma nenhum remédio. Vive na roça e cansa de avisar para os netos que a gente tem de para de comer coisa industrializada para viver mais. Mas o vô abusa da gordura de porco e isso não é muito bom. Ele fala que inhame é depurador do sangue, 'Oropunobre' tem um montão de proteína e 'Arnica' cura qualquer machucado.
Ele não gosta do barulho da cidade, mas gosta quando os netos e filhos fazem barulho no seu sítio. E quando muita gente está reunida na varanda da sua casa, ele pega um acordeom bonito, vermelho, bem guardado dentro de uma cômoda. Os dedinhos durinhos, calejados da lida na roça, começam a dedilhar devagar uma canção. A canção é conhecida, a felicidade dele é conhecida.
O som de sanfona vai se misturando com a fumaça do fogão de lenha. O terreiro varridinho é iluminado por um sol forte. A roda de água que agoa as verduras na horta parece começar girar no compasso da música. Vovó larga de picar o frango e vai cantar também. A minha prima de colo balança o pesinho em sinal de agrado. Um pega uma panela, outro uma caixinha de fósforo e o resto ajuda com a voz. O vô grita:
_ Mariana, pega o violão e vem me ajudar!
E esquecendo do meu abandono ao aprendizado do instrumento eu redescubro que a felicidade pode surgir de poucos acordes.
Parabéns vô pela simplicidade e alegria que o senhor ensina a toda família!
3 comentários:
Bom demais ser feliz, né?
Tem horas q eu me sinto assim tb... Minha mãe entornando uísque e cantando U2 tudo errado... O cheiro da carne assando... Meu pai com o violão tocando Wish You Were Here... Meu irmão matando a sede com coca-cola...
=D
Tô com saudade de pessoas de poucos acordes.
A vida não é uma escala harmônica e fico feliz de voc saber disso também.
Parabéns para o QUATRO do seu avô.
Nem eu consigo mais.
Beijo!
Lindoooo parabens isso e viver!
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