segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Como adquirir as impressões digitais de um cadáver murcho?

Primeira semana de aula. Período novo, matérias novas! Estou satisfeitíssima porque, enfim, terei Medicina Legal. Essa disciplina abrange os conhecimentos de natureza médica e biológica que são colocados a serviço do universo jurídico. Os que convivem comigo - ou lêem esse blog há algum tempo - sabem que sou muito interessada por esse assunto. Minha mãe explica esse interesse pelo fato de que com quatro anos eu queria ser juíza (nem lembro que eu queria isso, provavelmente nem sabia o que era essa profissão.). Agora - como candidata a médica (quem sabe legista) – mantenho a meta: servir ao Direito constituído.

Receber doses semanais de conhecimento sobre Medicina Forense fará com que nesse blog chova informações cadavéricas. O texto de hoje já está dentro dessa promessa e sai sem antes ter assistido qualquer aula ainda. As informações e imagens vêm de um livro que me emprestaram:
[Nome: Medicina Legal. Autor: Eduardo Roberto Alcântara Del-Campo. Editora: Saraiva. 5ª edição. Páginas: 84 e 85.]

Hoje, o Chuva de Containers ensina para você como tomar impressões digitais de um
cadáver.

A pele possui duas camadas. Uma superficial, epiderme, e outra adjacente e mais profunda, derme. As ondulações que formam os desenhos papilares ou digitais são circunvoluções da epiderme que se estendem sobre glândulas, terminais nervosos e vasculares da derme. As impressões digitais são variáveis de indivíduo para indivíduo e não se repetem nem mesmo em
gêmeos univitelinos. Por isso os desenhos papilares são importantes ferramentas para diferenciação e reconhecimento de uma pessoa.

Para se colher as impressões de um indivíduo vivo, procede-se de forma simples e bem conhecida. Usa-se uma tinta apropriada, um rolo para entintamento dos dedos e o papel impresso destinado ao recebimento das impressões.

O dedo de um ser humano vivo possui um tônus próprio que permite a pressão da digital sobre o papel para reproduzir satisfatoriamente o desenho papilar. Para se obter as impressões digitais
de uma pessoa que faleceu recentemente, o procedimento ainda é efetuado sem dificuldades. Basta que o pesquisador efetue a pressão do dedo do morto sobre o papel. Contudo, há obstáculos quando a pessoa faleceu há mais tempo e o corpo se encontra em rigidez cadavérica, amolecido, murcho ou em início de putrefação. Para tudo há um jeitinho. O jeitinho para solucionar esse problema é descrito no livro citado.

A rigidez cadavérica não é óbice para a tomada das impressões digitais, podendo, no máximo, dificultar bastante a sua execução.

O amolecimento excessivo dos tecidos ocorre, por exemplo, nos corpos dos afogados. Normalmente basta que o pesquisador tenha cautela de limpar os dedos do cadáver com um pouco de álcool e em seguida aplicar a tinta.

Em alguns casos de emurchecimento mais avançado preconiza-se a injeção subdérmica de um líquido inerte, como parafina ou a glicerina, com finalidade de devolver a conformação da extremidade digital e permitir a coleta de impressões.

Para os corpos em decomposição é necessária a retirada da luva cadavérica, ou seja, a pele que recobre os dedos da mão do cadáver. [O desenho explica como é a retirada dessa luva cadavérica. Corta-se transversalmente a pele do dedo alcançando com o corte a área de um anel (1). Depois, a pele do dedo é arrancada como um preservativo (2)]. Após isso, o pesquisador veste a pele do cadáver sobre sua própria mão, previamente protegida por uma luva de borracha (3). [É a hora de ver se a capinha de dedo do morto serve no seu dedo. Hehe]. Enfim, pode-se tranqüilamente fazer a tomada das impressões digitais (4 e 5).


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Da Música para a Medicina. Permanece a sensibilidade.


@rodrigoocariz pertence a minha turma de Medicina atualmente. Rapaz de 20 anos, sorridente. Veio transferido de uma faculdade de Medicina do Rio no início do ano de 2010. Começamos a nos aproximar pela internet e numa das conversas para conhecer melhor meu novo colega de classe, ele conta sobre sua convicção de estudar Medicina. Mas essa certeza nem sempre existiu.

Eu desisti da Música pra fazer Medicina! É sério! Tinha o cabelo na cintura e já tocava violão aos 7 anos. Iria fazer Instituto Souza Lima em São Paulo e tentar uma bolsa na Blerkley em Boston. Queria ser maestro. Tentaria regência e composição.

As coisas foram mudando. Comecei a conversar muito com músicos. Falei com o maestro da Orquestra do Teatro Abril na época em que a versão em português do Fantasma da Ópera estava em cartaz. Ele me contou que tinha se formado na Unesp em regência e composição. Exatamente como eu queria. Ao me explicar sobre a trajetória que teve de seguir para ser maestro, fui desmotivado. São só 8 vagas por ano nessa Universidade e piano é instrumento obrigatório para o curso. Geralmente, os que entravam eram aqueles que tocavam o instrumento desde os 4 anos.

Meu pai* viu que eu estava em dúvida. Ele é o médico cirurgião Félix. Começou a me levar pra assistir as cirurgias que ele efetuava. Fui gostando cada vez mais!

Certo dia, fui num casamento. Um amigo do meu pai veio me perguntar se queria ainda fazer Música. Falei que cogitava fazer Medicina e ele me replicou assim: “Você pode ser médico e músico, mas você não pode ser músico e médico".

Fiquei com isso na cabeça. Fiz os vestibulares. Não tinha passado em lugar nenhum. A seletividade para Medicina era tão grande como para a Música e isso aumentava as minhas dúvidas. Foi então que um dia, cheguei em casa e vi uma foto em cima da mesa. Era de um menininho, sabe? E nela estava escrito com letra de criança:

“Para Tio Félix: Deus criou a terra, o céu e o mar, e criou você pra poder me curar.”

Quando eu li isso eu tive certeza que queria Medicina.

Nos momentos de alívio das matérias da faculdade, vou à casa do Rodrigo para tomar chocolate quente e o ver tocar violão. É bonito! Arrisco dizer que nunca vi alguém tocar igual. Ele não pula nenhum acorde e não é necessário cantar a música para saber qual é.

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*O pai do Rodrigo é o Doutor Félix Carlos Ocáriz Bazzano. Cirurgião pediatra, atual reitor da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre – MG. Professor da Faculdade de Medicina de Alfenas – MG. Cirurgião pediatra do Hospital Alzira Vellano de Alfenas – MG. O primeiro, e – até então – único, médico a separar duas crianças siamesas no INTERIOR de Minas Gerais.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Vende-se Veias.

Eu pedi ajuda ao @Will__Martins estudante de Ondontologia do 6º período da UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa para escrever esse texto. Mas ele me enrrolou, enrrolou... e não me arrumou material nenhum. Então, essa postagem sai apenas com o material que consegui fotografar numa feira de artefatos Odontológicos na minha Universidade (UNIFENAS-Alfenas-MG).

Uma feira como essas acontece no início do ano, quando estudantes de Odonto precisam montar sua maletinha de apetrechos. “O curso de Odontologia sai caro”, disse William, que estima um gasto de 12 mil reais extra-mensalidade com materiais necessários para cursar disciplinas práticas durante todo o curso.

A feira é iniciativa de uma loja de produtos odontológicos da cidade de Alfenas-MG que faz um acordo com a Universidade. A loja sai na frente de outras quando leva seus produtos ao consumidor/aluno em seus intervalos entre aulas nos corredores.

As mesas de exposição dos objetos eram bem atrativas. As ferramentas utilizadas são muito coloridas e a variedade de brocas para o temido “motorzinho” causa surpresa. No meio de tudo, duas coisas me chamaram mais a atenção. A boca cheia de buracos e os ingredientes para fazer gengiva de dentadura.

Um estudante de Odontologia compra uma arcada dentária com 32 dentes problemáticos. Cada dente tem um problema diferente, uma cárie em local diferente. A proposta da peça é fornecer ao estudante um produto que imite a dureza do dente de verdade. Na peça se treina diversas possibilidades de restauração. No final do curso de Dentística Operatória, dentes perfeitos deverão ser apresentados. A dentadura é guardada pelo estudante como objeto de decoração. No futuro, as arcadas vão parar de enfeite na mesa do consultório do profissional. Às vezes são até usadas para ensinar crianças a escovarem os dentes direitinho.

Um pouco menos chamativo que a arcada dentária - mas, talvez, até mais interessante - um kit de resinas promete confeccionar a mais perfeita gengiva para a sua dentadura! A prótese deve imitar exatamente a cor natural da gengiva do paciente. Mas essa cor não está pronta. Existem seis frascos diferentes de resina com tons variados de rosa. Misturando esses tons, obtem-se a cor da gengiva da dentadura.

Além das resinas, o kit vem com dois potinhos de VEIAS! Isso mesmo: veias ou condutos de sangue. Um potinho é de veias roxas e outro potinho de veias vermelhas. Claro que não são veias de verdade meus leitores! Mas imitações sintéticas inteligentes de material ultramegapower avançado tecnologicamente. Se a pessoa tem a gengiva mais escura, veias roxas são mais utilizadas. Para uma gengiva mais vermelhinha, usam-se as veias do outro potinho. É lindo! Fazer gengiva de dentadura é mais ou menos como brincar de massinha no primário.

"Sistema Tomaz Gomes de Caracterização" é o nome do Kit. Nome pomposo. Eu também achei.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Nasceu!


O nome dela é Felícia Martins Araújo. É a minha cara não acham? Os contornos belos são da mãe aqui. Do pai biológico vem o cabelo ruivo e o olho claro. Mas aquele ogro de homem fugiu, não quis saber da menina. Quem vai assumir ela é meu atual namorado que diz emocionado pelo telefone: "Vou amá-la muito, como se fosse minha. Ela é minha!". Estou muito feliz! Fefê é muito calma. Não acorda de noite! Não chora! Não faz cocô, nem racha meu peito ao mamar! Até hoje gastou só uma fralda! O dia todo me observa com os olhos bem arregalados. Só tem um problema e que vem da genética do lado de lá (participação espermatozóidica do pai): Ela tem muitos gases. Não convém apertar muito.
"Linda da mamãe! Bem vinda à esse mundo cruel! Eu te protejo.".

sábado, 1 de maio de 2010

Cardiograma do coração de uma rã.

Sabe uma reflexão boa de se fazer antes de aprender qualquer coisa? A indagação de como alguém chegou àquela conclusão. E aí você percebe uma coisa interessante em tudo que o homem descobriu até hoje. Tudo parte de idéias simples. E essas idéias simples, eu ou você poderíamos ter tido. Até o computador - essa ultra-power-mágica máquina que não fazermos a mínima idéia de como chegou a potencialidade de hoje – vem de circuitos simples que foram amontoados numa grande sala. É do conhecimento de vocês que o primeiro computador ocupava todo o espaço dessa sala, pesando toneladas.

Sempre atenta a genialidade das coisas simples, essa semana eu me encantei com uma aula prática aqui da Faculdade de Ciência Médicas de Alfenas-MG. Uma aula da disciplina de Fisiologia com o propósito de analisar a atividade do coração de uma rã. O registro dessa atividade chamamos de ‘Cardiograma’. Cardiograma é diferente de Eletrocardiograma. O primeiro registra a atividade do coração: suas sístoles e diástoles. O segundo registra a variação dos potenciais elétricos gerados para promover o batimento.

A aula que narrarei foi para obter o Cardiograma. Assim, era importante o movimento do coração da rã: seja de contração, seja de relaxamento. O registro necessário a se fazer era quanto a variação da força de contração (inotropismo) e da freqüência de contração (cronotropismo). Modificações do cronotropismo e inotropismo foram induzidas aplicando substâncias como: adrenalina, acetilcolina, solução isotônica fria, solução isotônica quente, pilocarpina e atropina.

Mas como observar se o coração batia mais forte ou mais fraco? Mais rápido ou mais lento? Com os olhos? NÃO! Seu olho pode ser o mais esperto que existe, mas o pequeno coração da rã (mede 2 dedos mais ou menos) não lhe passa informações significativas só de olhar. Aí, alguém (que não sei quem é) desenvolveu uma engenhoca simples e brilhante, que permitia ver perfeitamente as variações na força e na freqüência com que o coração batia. É essa engenhoca que foi reproduzida na minha aula prática de Fisiologia.

Precedimentos:

Sacrifica-se uma rã pela destruição do seu sistema nervoso central. É feito um furo na região cervical do anfíbio seccionando essa parte da medula. O objeto pontiagudo caminha depois pela medula espinhal do anfíbio, destruindo-a toda. Em seguida, destrói-se a parte cerebral pelo mesmo acesso do furo cervical. Animal morto, hora de dissecar o coração. O esterno é arrancado num corte em ‘v’ e o bisturi rompe o pericárdio para se acessar o órgão. O coração da rã continua batendo por um bom tempo depois da morte. Isso porque esse órgão tem também uma despolarização que independe do Sistema Nervoso Central. O nosso coração também continuaria batendo numa morte por destruição do Sistema Nervoso. Mas fatores associados ao tamanho do nosso corpo e a diminuição do sangue que irriga o nosso coração, diminui para um tempo mínimo o período que o órgão bate independentemente.

Com o coração da rã exposto, hora de adaptar a engenhoca.

Um ganchinho (tipo um anzol) pinça o ápice do coração (a ponta do órgão). Nesse gancho é amarrado numa linha, que por si, é fixada ao terminal de uma vareta fina por uma massinha dessas coloridas de escola. A vareta se encontra suspensa em alavanca: Uma extremidade com a linha amarrada e a outra extremidade com uma agulha adaptada para cravar o registro de movimento da vareta. Na frente da agulha da vareta, um papel impregnado por pó de cânfora - e colado em um tambor - gira vagarosamente pelo movimento de um motorzinho adaptado. O coração da rã contrái, puxa a vareta, a agulha levanta e crava no papel (removendo o pó dele) uma curva ascendente que indica a sístole do coração. O coração relaxa, a vareta volta ao normal e o registro da agulha é uma curva descendente.

A altura da curva indica a força com que o coração bate (inotropismo) e o número de curvas indica a freqüência com que o coração bate (cronotropismo). Curvas muito próximas indicam uma freqüência maior.

Apartir daí, sem mexer no experimento armado, são adicionadas separadamente as substâncias já mencionadas: adrenalina, acetilcolina, solução isotônica fria, solução isotônica quente, pilocarpina e atropina. Alterações na curva de batimento normal são observadas.

Simples assim!

Foi daí que surgiu tudo de mais arrojado que hoje existe para entender o nosso nobre órgão. Foi daí que outras pesquisas se somaram para fazer todos os corações baterem bonito. ;-)




Os resultados, talvez, interessem mais às pessoas com conhecimento na área de saúde, mas os descrevo aqui.

Adrenalina (neurotransmissor do Sistema Nervoso Simpático): Inotropismo e Cronotropismo positivo. Força e freqüência do coração aumentam. O tamanho das ondas aumenta e se observa mais ondas num menor intervalo de espaço do papel.

Acetilcolina (neurotransmissor do Sistema Nervoso Parassimpático): Inotropismo e Cronotropismo negativo. Força e freqüência do coração diminuem. O tamanho das ondas diminui e a freqüência das ondas também.

Solução isotônica quente (Simula situação febril. Ringer na temperatura de 37º, que, para a rã, é hipertérmico): Inotropismo negativo e Cronotropismo positivo. Há um mecanismo compensatório. A febre leva a diminuição da força com que o coração bate, mas o órgão aumenta o número de batimentos por minuto.

Solução isotônica fria (Simula hipotermia. Ringer a 4º): Inotropismo positivo, Cronotropismo negativo. O mecanismo compensatório é inverso. O coração bate menos vezes por minuto, mas com maior força.

Pilocarpina (Deve ser administrada antes da Atropina. É um parassimpatomimético, ou seja, mimetiza o neurotransmissor do Parassimpático: Acetilcolina. Tem, portanto, mesmo efeito da Acetilcolina): Inotropismo e Cronotropismo negativo.

Atropina (Se liga aos receptores para acetilcolina e bloqueia sua ação. Mesmo efeito da Adrenalina): Inotropismo e Cronotropismo positivo.

Desdobrar a fé.

A lenda conta que...

... aquele que dobrar 50 mil origamis consegue o que quiser.

A menina tinha uma doença ruim, dessas que não se fala o nome para não atrair de jeito nenhum a possibilidade de ter o mal para si. Ela dobra um, dois e outros muitos papéis. O desejo final era a cura da coisa ruim.

Com 48 mil origamis, ela morreu.

(o @rodrigoocariz me contou)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Fazendo mundos menos embaçados.


Eu nasci com os olhinhos meio ruins mesmo. Uma alteração conformacional do globo ocular que hoje bem entendo pelos estudos na área médica. Mas assim... eu descobri o milagroso objeto que limpava o mundo (óculos) só com sete anos, e na escola. A professora deve ter notado que a pequena menina bochechuda apertava os oim para conseguir entender alguma coisa do Be-A-Bá no quadro. E ela sentava bem na frente. E não adiantava muito.

O mundo é feio embaçado. Na época ela não entendia isso. Ela não conhecia o mundo cheio de detalhes, cores e contornos. Mas, mesmo assim, ela o achava bonito porque era simplesmente o único mundo que ela conhecia. Num certo dia então, descobriram que a menina precisava de óculos. Uma moça a chamou, junto com seus coleguinhas, para um teste de visão. Ela sentou na cadeirinha (essas pequenas mesmo, que só gente pequena senta e numa escola de gente pequena têm muitas). Na frente, um papel com um monte de “És” certos e tortos, de vários tamanhos. A instrução era: “Menina, do jeito que você ver o “É”, faça com o dedinho!”. Um olho é tapado com uma colher mesmo, para avaliação separada da acuidade visual. E Ixa! Com os dois olhos a menina bochechuda só viu os “És” de forma certa até a quarta fileira. De orgulhosa que sempre foi, sem admitir que não via os outros “És”, ela foi fingindo e errando. Resultado: Um óculos da Mônica cor de rosa e redondo; um monte de coleguinhas a chamando de “quatro olhos”; uma menina esperta e inteligente; e uma adolescente envergonhada, mas que, para o bem, dosou bem sua sensualidade e se dedicou muito aos estudos.

Hoje a menina cresceu, é essa marmanjona que acaba de completar 21 anos e que vos escreve. Ainda bochechuda, cabeluda e apreciadora desse mundo limpo e nítido que posso ver com os óculos.

Peça do destino, essa semana me tornei a moça que testava a visão de alunos de uma escola aqui de Alfenas - MG. Foi parte de um trabalho para créditos em uma disciplina da faculdade de Ciências Médicas. Na visita à escola, passaram pela gente muitas salas, muitas idades, muitos olhos de águia, muitos novos usuários de óculos. Mas um caso especialmente me emocionou. Uma menina bochechuda, cabelo castanho escuro, nariz empinadinho também. Mão gordinha usando esmalte rosa feito o meu. Ela falou certo até a quinta fileira de “És”, mas depois embananou tudo. Resultado: Um bilhete para os pais a levarem no Oftalmologista. A garotinha saiu com o papel sem entender muito do resultado daquilo tudo. Só desejei mentalmente assim: Vai viver seu mundo mais colorido e seja muito feliz nele!

domingo, 31 de janeiro de 2010

A gente assume o erro, mas não tem que ficar olhando para ele toda hora.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Agradecimentos. ("Minha Primeira Cirurgia")

Antes tarde do que nunca. Tenho que postar essa nota de agradecimento pela grande repercussão do texto "Minha Primeira cirurgia". O texto alcançou 15 comentários no blog (tira 1 que foi comentário meu). Nunca antes um texto foi tão comentado! Todos, comentários positivos. Comentários de pessoas desconhecidas que fizeram alusão até à outros textos do blog. Um comentário em especial me deixou bastante emocionada: de um ex professor meu, Marlon Henrique Teixeira.

Mas enfim, muitos leram e não comentaram. Mas outras tantas pessoas leram tudinho e comentaram num tópico de uma comunidade do orkut: "Vestibulandos de Medicina". Segue o link da comunidade

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=116422

e logo abaixo, o link do tópico de divulgação do texto criado pelo meu amigo Johnny Everson.

http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=116422&tid=5397364471785875288&kw=namesmachuva

O tópico esteve mais ativo nos dias 28/10/2009 e 29/10/2009. Rendeu 51 postagens, entre elogios e discussões anatômicas de que a parótida fica na cabeça e não no pescoço. Na verdade escrevi que a paroidectomia é no pescoço. Só isso. Estou certa! A incisão é no pescoço. A parótida fica na cabeça. Confirmei os limites anatômicos (cabeça e pescoço) com minha mestra Evelise, graduada na USP. Ela achou o meu questionamento específico estranho e passou a me chamar de 'parótida' pelos corredores da faculdade desde então. Olha minha poker face para ela ¬¬'

Kkkkk

Para quem não tem orkut e a mercê de apagarem o tópico que encheu meu pobre ego, copiei as postagens na época e hoje upei tudo para eternizar. É só clicar aqui (http://twitpic.com/zxocv/full) para ver tudo que escreveram.

Obrigada gente! Obrigada mesmo! Vocês me fizeram sentir querida num momento que precisei.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Paz!

Aêeee! 2009 eu posso ter sido um fracasso como blogueira, mas eu vivi muito mais! Para vocês e para mim, outras grandes conquistas em 2010!
Saúde e paz! É tudo que a gente precisa.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Que bicho é esse?

Morar em apartamento te livra um pouco da presença de insetos. Casas sem terreiro e que fiquem localizadas em regiões mais centrais das cidades, também ficam menos acessíveis aos insetos da mata.

Em Alfenas – MG, eu moro em uma casa e perto de uma reserva verde. Na verdade, Alfenas é piquitita e para qualquer lado que a gente vai, encontra mata. Resultado: Dia sim, dia não, aparecem artrópodes estranhos nas minhas dependências.

Olha essa espécie de grilo-tatuado que apareceu por lá:

Gente! Ele tem uma ‘carinha’ tatuada nas costas! Juro que não foi eu quem desenhei com caneta para CD! Apesar de ter dado uma vontade louca de acrescentar uns chifrinhos ali para dar mais ibope à imagem. Hehe

Aprecie a simpatia do bichinho! Rindo ainda! Oh natureza mais bela essa!

A pessoa que vos escreve - uma semi-bióloga que abandonou o curso de Biologia no segundo ano de faculdade - ainda aprecia de mais essas miudezas vivas do mundo!

Que tal um besourro-rinoceronte?


Clica na imagem! Amplia ela! Salva para você! Põe de plano de fundo no desktop! Pruveita sô! =)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pé! Eu te amo! Eu amo cada coisinha em mim!

Muitas coisas me aconteceram nesses últimos 2 meses e por indisposição – entre outras causas – nada foi parar no Chuva de Containers. Entrei em depressão senhores! Entenda DEPRESSÃO como um período de reflexão em que estive desmotivada a fazer coisas que habitualmente gostava. Não contei para vocês. Melhor assim. Este blog nunca nasceu para ser triste. Aliás, a fossa de Mariana Martins não durou muito tempo, graças a Deus! Então saibam que a ausência nesse blog nem foi por causa exclusiva de ocupação com os estudos, mas foi pelo tempo que tirei para tratar minhas descobertas depois da primeira cirurgia. É que caiu a ficha que o ser humano é uma casquinha. Que o bisturi, esse instrumento indecente, põe fim em alguém em poucos minutos. Agora, plenamente convalescida, sinto uma culpa danada de ter deixado de escrever coisas que participaram desse meu grande amadurecimento pessoal. Tudo aconteceu muito rápido. Nesse momento eu reconheço: foi preciso!

Algum dia você já acordou e disse: “Pé adorado! Lindo! Macio! Eu te amo!” ?

Que fosse “Pé áspero! Da unha encravada! Cheio de bolhas! Eu te amo!”?

Nunca né?

É por isso que todo mundo devia ver a cirurgia de amputação de um pé!

Eu não chorei. Eu não senti enjôo. Só fiquei em choque! A cirurgia foi mais rápida que todas as outras que já tinha acompanhado. Mais rápida que extração de um tumor de 15 centímetros de um testículo, mais rápida que a reconstrução de um fêmur comissurado, mais rápida que by pass de artéria poplítea. Amputar um pé durou 50 minutos! O motivo da amputação: Diabetes. Essa doença causa lesão das células que revestem o interior dos vasos sanguíneos. Assim, células de defesa no sangue não conseguem sair do vaso para combater uma infecção que comece por pequenos machucados. O resultado é um pé neuropático, infeccionado, que pode chegar perder a perfusão sanguínea. É o pé diabético. Se esse pé inútil não for amputado, torna-se problema para o resto do corpo. A infecção se espalha e a pessoa morre.

Para chegar ao ponto de perder um pé por esse motivo, muita omissão do paciente aconteceu. E, sim, o paciente que perdia o pé naquela mesa de cirurgia era de simples condição social. Ele não tinha consciência que as coisas chegariam a esse ponto e não foi instruído para evitar aquilo. O paciente era um velhinho que provavelmente chegou aos serviços de saúde para pedir ajuda calçando um chinelo havaianas azul.

A minha reflexão nessa hora foi admitir que a maioria dos pacientes que se humilham nas filas de atendimento do pronto socorro são de condição humilde. Falta instrução a essas pessoas para prevenção de doenças. E a saúde - que pelo SUS é deficiente de recursos e pelo meio privado não sai barata - falha justamente para quem mais necessita: quem tem pouca renda.

A segunda reflexão não foi pela injustiça social de privar atendimento de saúde a quem tem pouca renda. A segunda reflexão foi puramente existencial. É que bisturi circula a canela do paciente em 10 segundos. O pé doente é encapado por uma sacola plástica no início da cirurgia. A amputação prossegue pela dissecação de camadas. A pele o bisturi já levou! O cauterizador vai rompendo a gordura. Os vasos sanguíneos são amarrados e depois cortados pelo cautério também. O osso é cerrado por uma cordinha metálica dentada. ‘Cera de osso’ é o nome da massinha que veda o buraco que a medula óssea ocupa. O soro lava tudo e os pontos terminam de fazer o cotoco de perna. Um cotoco é uma coisa feia! Murcha! E, sim! Nessa hora dá vontade de chorar. O pé sai inteiro dentro do saco plástico de cor específica para restos hospitalares orgânicos.

Mas então... e se o bisturi subisse? Subisse... subisse... subisse...

Sobrava um corpo dentro de um saco plástico?


Passei esses últimos três meses formulando RESPOSTAS.

Não as tenho.